domingo, 1 de abril de 2012

O petróleo no meio do caminho


O Globo, 31/03/2012 (
 
A escalada dos preços do petróleo este ano - o barril do tipo Brent, referência no mercado internacional, já subiu mais de 15% - acendeu o sinal de alerta de economistas e líderes mundiais para os riscos do impacto em uma economia global ainda muito frágil, com os Estados Unidos registrando elevado desemprego e a Europa à beira de nova recessão. Já há quem diga até que o petróleo substituiu a crise da dívida da Grécia como fonte de incertezas.
INFOGRÁFICO:
Crise no petróleo
Em 2012, o preço médio do barril do tipo Brent chega a US$ 117,21, segundo agência Bloomberg até o último dia 28, bem acima da média de US$ 108,77 do ano passado. Especialistas estimam que, se esta diferença de preços (US$ 8,94) se mantiver até o fim do ano, significará perda de até US$ 562 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e riquezas produzidos num país) mundial em 2013. Ou seja, 1% do PIB global. Se levar em conta alta de US$ 17,85 no preço, entre o fim de 2011 (US$ 106,31) e o dia 28 de março (US$ 124,26), até US$ 1,122 trilhão pode virar pó no próximo ano.
Os cálculos da redução do PIB são do economista Daniel Sousa, professor de pós-graduação em Política e Negócios do Clio Internacional, com base em estudo do professor da Universidade de Utah Mingqi Li e em números do Fundo Monetário Internacional (FMI). O chinês avaliou o período entre 1971 e 2010 e conclui que uma alta de US$ 10 no preço do petróleo está associada a uma retração de 0,4% a 1% do PIB mundial no ano seguinte.
A continuidade do cenário de alta de preços abre a possibilidade de um período de "estagflação" - inflação elevada com crescimento baixo. E aqui no Brasil a indústria ligada ao petróleo começou a sentir no bolso o impacto. O custo maior da nafta e dos derivados plásticos já chega a 18% neste ano.
'Saída da UTI'
seria prejudicada
Vários estudos estimam o impacto do petróleo caro. Na última quinta-feira, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) - que reúne os países desenvolvidos - divulgou que a recente alta dos preços do petróleo pode tirar de 0,1% a 0,2% do crescimento da economia de seus Estados-membros em 2013. Já a agência Fitch projeta que, se o barril tiver preço médio de US$ 150 este ano, o PIB mundial teria queda de 0,4% em 2012 e 0,4% em 2013. No caso do Brasil, a perda seria de 0,7% e 1,3%, respectivamente. O Goldman Sachs, por sua vez, estima que a alta de 10% do preço do petróleo significa perda entre 0,2% e 0,4% do PIB americano este ano e no próximo, respectivamente. Na Europa, o impacto seria de 0,2% este ano e quase zero em 2013.
- A nova alta do petróleo ocorre num momento delicado, em que os Estados Unidos estão se recuperando e a Europa sofre com instabilidade. A economia mundial está saindo da UTI, e pisar em um tubo de oxigênio pode ser complicado. Podemos viver um novo período de "estagflação", que ocorre após altas do preço do petróleo, que seria uma pitada de sal na atual crise - afirma o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP Simão Davi Silber.
Com crise no Irã, cotação de US$ 200
As incertezas em relação ao Irã, e a demanda de países emergentes têm puxado a alta da commodity. Em relatório recente, o HSBC afirmou que "O petróleo é a nova Grécia". E a instabilidade em torno do preço vai continuar com força. Daniel Sousa lembra que só haverá decisão sobre uma intervenção no Irã após as eleições nos EUA, em novembro.
- Hoje os estoques de petróleo estão altos, mas são estratégicos, usados em situações emergenciais. A crise no Oriente Médio pode desorganizar a oferta, levando a cotação para algo entre US$ 160 e US$ 200. Com isso, pode-se repetir o cenário dos anos 80, que é recessão com inflação. Os governos teriam de elevar os juros, aprofundando a crise - diz Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Segundo o economista Jeff Rubin, o mundo deve se preparar para uma nova realidade: a energia cara. Ele não acredita em escassez do óleo, mas lembra que os locais de onde se espera aumento de produção - como o pré-sal do Brasil - exigem custo maior.
- O preço do petróleo a três dígitos não é mais um fenômeno cíclico, mas um estado permanente. E vai limitar o crescimento da economia - aponta Rubin, que prevê que o barril alcance cerca de US$ 150 até o fim do ano.
De acordo com Luiz Carlos Prado, professor do Instituto de Economia da UFRJ, a inflação já está alta no mundo inteiro, em relação ao nível atual de atividade econômica:
- A "estagflação" seria um risco real (se o preço do petróleo disparar).
Como insumo básico, o petróleo influencia os custos de toda a economia, levando à alta de preços e pressão sobre a inflação. Tradicionalmente, bancos centrais elevam juros neste cenário, mas Silber diz não saber como seria a reação agora:
- Os BCs estão dispostos hoje a aceitar uma inflação mais alta.
No Brasil, o impacto da alta do petróleo é amenizado pela política de preços de longo prazo da Petrobras, que não repassa flutuações diárias. Mas, com um novo patamar, ficará impossível para a estatal não reajustar a gasolina, diz Langoni. Sousa afirma ainda que o Brasil não ficará imune, já que os países desenvolvidos vão crescer menos:
- O petróleo mais caro afeta a economia mundial, pelo lado da oferta, porque aumenta custos. As empresas gastam mais para produzir o mesmo ou até menos.

sexta-feira, 30 de março de 2012

  
Agência Estado,quinta-feira, 29 de março de 2012 19:13


Apesar da recente alta dos preços do petróleo no mercado internacional, o Banco Central manteve a previsão de que os preços da gasolina não devem subir nos postos brasileiros em 2012. Mais do que isso, a instituição responsável por manter o poder de compra da moeda avalia que o combustível já é, no atual preço, 50% mais caro do que nos Estados Unidos.

"Se fala muito em divergência de preço da gasolina no Brasil e no resto do mundo. Mas se levarmos em conta que um galão de gasolina custa em torno de US$ 4 nos EUA e que o preço do litro está em torno de R$ 2,70 e R$ 2,80 no Brasil, o galão no Brasil custaria cerca de US$ 6. Ou seja, cerca de 50% mais caro que nos Estados Unidos", argumentou ontem o diretor de política econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo.

A expectativa de preços estáveis nos combustíveis tem perdido força. No domingo, em entrevista ao jornal O estado de S. Paulo, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, informou que a presidente da Petrobras, Graça Foster, já pediu ao governo autorização para aumentar a gasolina e o governo, que negava quase automaticamente o pedido, diz agora que está "analisando a questão". Nos últimos anos, o governo segurou diversas vezes o preço nas bombas para ajudar o BC no combate à inflação.

Ainda na lista de preocupações com o petróleo, Hamilton disse que a recente alta dos preços da commodity compõe um "um risco importante" e pode até colocar em risco a retomada da atividade econômica nos Estados Unidos.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Preço de gasolina e gás de cozinha não deve ter aumento em 2012, diz Copom
Uol Notícias (15/03/2012)
Daniel Lima
Da Agência Brasil, em Brasília
 
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manteve a projeção de que não haverá reajuste dos preços de gás de botijão e da gasolina no acumulado de 2012. De acordo com a ata da última reunião do Copom, em que a taxa básica de juros foi reduzida para 9,75% ao ano, “os choques identificados, e seus impactos, foram reavaliados de acordo com o novo conjunto de informações disponível. O cenário considerado nas simulações também levou o comitê a manter outras projeções”.
Foram mantidas também as estimativas de aumento das tarifas de telefonia fixa e de eletricidade, para o acumulado de 2012, em 1,5% e 2,3%, respectivamente. Também houve estabilidade na projeção de reajuste, construída item a item, para o conjunto de preços administrados por contrato e monitorados para o acumulado de 2012, que permaneceu em 4%.
Para o próximo ano, a expectativa de reajuste para o conjunto de preços administrados por contrato e monitorados foi reduzida para 4,5%, ante os 4,6% previstos na ata anterior. Essa projeção se baseia em modelos “que consideram, entre outras variáveis, componentes sazonais, variações cambiais, inflação de preços livres e inflação medida pelo Índice Geral de Preços [IGP]”.

Governo segura preço da gasolina até junho

Governo segura o preço da gasolina até junho
(Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/governo-segura-preco-da-gasolina-ate-junho-4357783#ixzz1pqrkNOBd)
O Globo, 19/03/12

Depois, se a pressão do mercado internacional for inevitável, tributo será reduzido
BRASÍLIA - O governo está decidido a segurar os preços da gasolina pelo menos até o fim do primeiro semestre, apesar das pressões das cotações internacionais. Se um ajuste nas refinarias for inevitável, a ordem é garantir o preço na bomba para o consumidor com a redução da Cide — tributo cobrado sobre os combustíveis.
A estratégia do Executivo agora é evitar a todo custo que qualquer oscilação de preços de combustíveis venha a causar impactos na inflação. Especialmente quando a determinação é estimular a economia com incentivos e crédito para garantir o crescimento de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB), como quer a presidente Dilma Rousseff, o que, por si só, já exerce impacto sobre os preços.

Governo vê margem de corte da Cide em até 7%

Apesar da redução recente no valor da Cide que é recolhida nas refinarias, a equipe econômica calcula que ainda haja uma margem adicional de até 7%. Mas essa correção só aconteceria se as cotações internacionais disparassem a curto prazo. Cortar o tributo significa perda de arrecadação. Nos últimos 20 dias, o preço do barril de petróleo passou de US$ 100 para US$ 120, o que chamou a atenção do governo.
— Mas não parece que justifique qualquer movimento agora, considerando a política de se avaliarem os preços na descida e na subida. Se voltar aos US$ 100, não há tanta pressão — disse um integrante da equipe econômica ao GLOBO.
Reduzir a Cide neste momento não resolveria o descasamento de que reclama a Petrobras entre os preços da gasolina lá fora e no mercado interno, que hoje é calculado em 22% pelo governo. Trazidos para a ponta do lápis, os cálculos do Executivo apontam que, de 2005 até o ano passado, a estatal do petróleo não teve perdas. Ou seja, as perdas de quando os preços estiveram mais altos lá fora teriam sido compensadas pelos ganhos de quando estavam mais baixos.

Abastecimento de etanol este ano já está garantido

O governo também se assegurou de que os preços do etanol não vão pressionar o bolso do consumidor como no ano passado. O abastecimento para este ano, segundo fontes do Executivo, está garantido. Ainda que haja algum problema, o país poderia, no limite, importar.
— Na última revisão, ficou claro que temos um nível confortável para este ano. O anidro está garantido para 2012. Para o ano que vem, faremos novo monitoramento — disse esta fonte.
Uma equipe do governo acaba de concluir um monitoramento do setor do etanol. A situação teria sido tão tranquilizadora que, de quinzenal, este acompanhamento passou a ser mensal.
Segundo técnicos que participam desses grupos de trabalho, sobrou álcool anidro depois que o governo mudou a mistura da gasolina. A expectativa é que o problema estaria resolvido a curto prazo. Para os próximos três ou quatro anos, é preciso esperar os resultados das medidas anunciadas no ano passado para estimular financiamentos para a estocagem e produção do setor, por exemplo, assim como o aumento da fatia da Petrobras nas vendas de etanol.